a coisa mais triste
que eu tentei realizar no amor
foi a tentativa de possuir um homem
na superfície dolorosamente rugosa
de um deserto
logo eu que atravessei a Grande Água
da china
eu que guardo no armário
[ para fugas & eventualidades ]
as minhas botinas costuradas
com barbatanas legítimas
o fato é que na américa as notícias galopam:
duas novas zonas de radiação inexploradas
e a constatação de um excelente dia
para a formação de anticiclones
na atmosfera espatifada
[ um ano perfeito para desastres ]
mas é que o nosso romanceziño apocalíptico
deslocou para sempre
meu centro de gravidade
alguns graus para uma latitudelongitude
ligeiramente acima
da elevação do nível do mar
“um raro acidente”
eles disseram
causado por pequenos & minúsculos colapsos
“na américa” eles disseram
“você pode adquirir uma estrela
a preços módicos”
uma suave bagatela
por um lugar garantido
no cosmos
“você pode nomeá-la”
eles disseram
como fazem algumas pessoas
que amam cavalos
ou ainda como alguns humanos
nomeiam suas crianças
“pode-se mover uma cidade
mas não se pode mover um poço”
eles alertaram
— pode-se fingir um desmaio
porém não é possível forjar
uma queda livre:
ou você cai ou você permanece
não é possível despencar
em slow motion
pode-se amar um homem
mas não a um deserto
pode-se mover um planeta a contragosto
mas não se pode mover um poço