O Polvo na Garrafa: breve explicação
“O polvo na garrafa: / um sonho vão / sob a lua de verão” (Matsuo Basho)
Cientistas supõem que o polvo, devido à sua superior inteligência e senso de humor diante dos inúmeros seres do mar, além de suas particulares capacidades anatômicas, cujo grau de parentesco no planeta terra é geneticamente nulo (inclusive entre os moluscos), seja um animal alienígena.
Antigamente, os pescadores japoneses atiravam uma garrafa de boca larga ao mar para fisgar os polvos. Diziam que, sentindo-se protegido, o polvo dormia e sonhava dentro da garrafa. Era em descanso, à toa, que o polvo era capturado. Basho então compôs esse haiku sobre o sonho inútil e transitório dos cefalópodos japoneses.
Esta série de escritos, que serão apresentados sob prazo indefinido aqui no Liberoamérica, são notas escritas logo após sessões diurnas de meditação. Imagens, frases e ideias que surgiam e que pesquei no abrir dos olhos.
O mestre budista Daisetz Suzuki, sobre esse haiku, uma vez escreveu: “Mas não é só o polvo que sonha confortavelmente na garrafa dos pescadores, mas todos nós, inclusive o pescador, continuamos sonhando ociosos sonhos vãos”.
* * *
1.
“Brotou da água o tamanho exato, escuro e poligonal, da falta. Uma falta tão ilusória como a imagem que criou-se dela; um objeto, uma nave de ferro, com quinas afiadas, a emergir do Tejo.”
2.
“Desde criança tenho certeza de que os humores mentais são em grande parte guiados pela musculatura dos olhos.”
3.
“O Rio Purus, serpenteado sobre uma planície azul.”