o alimento das plantas
ruminando a luz dos astros
tal como boi pastando esquecimento
iniciamos um plantio insensato
um jogo de cartas aquosas e
acendemos os dentes na mata.
incendiamos os ovários das estações
regamos com desvarios os muros e os túmulos dos ancestrais,
as suas raízes de loucura e indigência maldita
– eco na correspondência de outros ecos –
no corredor das reverberações
os sons dos besouros se animavam com fósforos
gritando feito crianças em parque de diversão.
nossa harmonia sibilina equilibrada sobre as pernas
criava movimentos endêmicos
espasmos na luz do vaga-lume,
enquanto passadiças eram as migalhas de dias
alimentando as plantas.
nossas vozes sem brilho
nossas vestes sem plumas
nossa corrida derradeira
nossos sorrisos…
…escorregavam para dentro do copo
para dentro do umbigo
para dentro de um vão longe da janela mimética.
agora, nossa velocidade polivalente reduzia a voltagem
nos aninhamos na aurora boreal estocada na dispensa
na dispersão do silencio,
na dispersão das sombras:
– a noite é lagarta mastigando o sono.
el alimento de las plantas
rumiando la luz de los astros
tal cual un buey pastando olvido
comenzamos el plantío insensato
un juego de cartas acuosas y
encendemos los dientes en la selva.
incendiamos los ovarios de las estaciones
regamos con desvaríos los muros y las tumbas de los ancestrales,
sus raíces de locura e indigencia maldita:
– eco en la correspondencia de otros ecos –
en el pasillo de las reverberaciones
los ruidos de los escarabajos se entusiasmaban con fósforos
gritando como niños en parque de diversiones.
nuestra harmonía sibilina equilibrada sobre las piernas
creaba movimientos endémicos
espasmos en la luz de la luciérnaga,
mientras aceras servían las migas de días
alimentando las plantas.
nuestras voces sin brillo
nuestras ropas sin plumas
nuestra corrida última
nuestras sonrisas…
… se resbalaban para dentro de un vaso
para dentro del ombligo
para dentro de un vacío lejos de la ventana mimética.
ahora, nuestra velocidad polivalente reducía el voltaje
nos anidamos en la aurora boreal almacenada en la dispensa
en la dispersión del silencio,
en la dispersión de las sombras:
– la noche es oruga masticando el sueño.
Imagem: Gabriel Archanjo // https://www.facebook.com/gabrielarchanjo.espiritosanto
tradução: Ellen Maria Vasconcellos. Veio de Santos, vive em São Paulo. Tem formação em Letras na USP, onde finaliza o mestrado em literatura contemporânea. Autora do livro de poemas Chacharitas & gambuzinos, publicado bilíngue pela Editora Patuá (2015). Tradutora do livro Ângulo de guinada, do autor Ben Lerner, publicado em ePub pela e-galáxia (2015). Trabalha com preparação, revisão e tradução de textos. Acredita em fantasmas e desconfia dos vivos. Enxerga muito bem, mas às vezes fecha os olhos. Não tem o coração de pedra