
Calada, menina o resguardou. Na ausência das mãos palavra acariciou alma. Vivia presente nas ausências doídas sem nunca as sentir como cavidades intrínsecas. Distante em corpo distância não sendo dentro [o coração era instrumento que destruía barreira.
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Nela morava no canto mais sutil do peito, onde o pulsar cantava sonatas celestes. Sob qualquer mentira a verdade era silêncio estremecendo o inteiro –, ecoado nas metades concretas. Tudo era entrega sem espera do encontro. Tão clara transparecia querença que espalhava toda neblina intrínseca.
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Menina sabia das sementes antes de raízes serem, encontrou o espírito antes dos olhos esbarrarem na pele. Sorrateira soube desnudar mil e muitos disfarces e todos os seus tristonhos traços.
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Além do sorriso, queria devolver o olhar para dentro – “vem! ainda há tempo, dizia. Nunca é tarde, – tardia é a noite que nunca amanhece. Mas, mesmo enegrecida enfeita nossos olhos com a luz das estrelas, afirmava”. Além da leveza, menina queria ser sereno para umedecer a aridez impermeável. Além das feridas cuidas, queria sorver as culpas que o cortava.
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Queria ser antídoto para curar a mágoa : queria ser doçura para amenizar o amargo. Queria desfazer as sombras esvaindo qualquer demônio. Menina queria. Fazia. Preenchia-se, mas não escondia o derramamento de lágrima. Sabia que quase todo aquele transbordamento de afeto era levado rio a fora.